sábado, 31 de janeiro de 2004

FESTA e QUOTIDIANO




no SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

Maria Helena Carvalho dos Santos
Universidade Nova de Lisboa


Introdução

A FESTA, como proposta de estudo e resposta dos investigadores da História do quotidiano e das mentalidades, é uma questão em aberto dentro do grande tema, ultimamente muito estudado, da unidade e diversidade das Luzes,
A festa religiosa tanto é estudada no Japão como no Brasil. As preocupações com as festas/comemorações estudam-se tanto em Espanha como nos Estados Unidos da América, como em Portugal. Desenvolver a ideia de que o Poder precisa de ser entronisado através de FESTAS é tão interessante como compreender as raízes antropológicas e históricas do Natal. Se a Festa da democracia podia despontar em Inglaterra, mesmo iniciada à custa do sofrimento de alguns, e degenera em comícios de massas, o roubo ritual que se praticava em diversas regiões e ocasiões não andava longe de atingir uma semelhança de sentido de apropriação e simultaneamente de desprendimento de bens materiais. De alguma maneira, propíciam as festas e as comemorações cívicas. As construções efémeras que recebem reis ou embaixadores proliferam, a par de touradas ou “farras do boi” que a antropologia histórica vem explicando, eram (são) a festa de rua, como as procissões, muitas vezes em complementaridade de festejos  que decorriam ao longo de vários dias, sempre em honra da mesma personalidade, divindade ou acontecimento. Na Corte ou nas gentes do Povo a FESTA é um símbolo, um mito, uma realidade e uma necessidade. Como os sonhos, que se não existirem matam. O sagrado e o político entram em diálogo. A vida e a morte confundem-se e uma dá origem à outra. As mulheres terão estatutos específicos em algumas festas, ora ligadas à Lua, à Terra, aos bastidores, aos rituais, mas logo surgem o teatro, as danças, a música, a filosofia, colocando todo o ser humano numa circularidade cultural não independente, mesmo que opositora. Solstícios, Purins, sincretismos, carnavais, tolerâncias ou violências, de tudo a FESTA se forma para retornar aos homens transfigurada, aliciante de novidade na repetição ancestral de gerações que a modificam vivificando-a.
A ciência que foi festa de Corte e dos nobres, introduziu as revolucionárias medidas décimais discutidas no Salon  de Madame Condorcet, como a Marquesa de Alorna seguia as aulas de Física, sendo ainda festa o aerostato, ou o balão do português Padre Bartolomeu de Gusmão, numa identificação entre ciência e povo que inspirou a Goya várias obras.
Se a FESTA tem sido visitada por folcloristas, etnólogos, antropólogos, sociólogos ou jornalistas, parece ter chegado o tempo dos historiadores tentarem compreender esse fenómeno de longa, longuissima duração, estudando-o numa perspectiva conjuntural, interdisciplinar e multidisciplinar. Queremos saber como nasceram as festas, mas também estamos curiosos em decifrar o seu significado, tanto numa perspectiva de quotidiano como de mentalidades.
Não é apenas a sua evolução que interessa os historiadores. Eles querem saber como as sociedades viveram as suas festas, como as suas estruturas foram mantidas, numa aproximação ao entendimento da necessidade da FESTA. Porquê a festa?
Porquê as festividades de Potosi (Alto Perú), no Século XVI, e as de Vila Rica (Brasil), no Século XVIII, mantêm a mesma estrutura formal? Porquê o fogo de artifício se encontra tanto ali, como na Corte portuguesa e chega aos nossos dias? Porquê a festa de Corpus Christi faz converter um índio no Perú e une o sagrado e o político nas vilas portuguesas recém convertidas ao republicanismo nos inícios do Século XX? Porquê se construíu o Convento de Mafra e o Teatro de São Carlos para comemorar o nascimento de dois príncipes, a um século de distância? Porquê tanto na Suécia monárquica do Século XVIII, como na França revolucionária se instituiram novas festas de forma a prestigiar os respectivos poderes? Em que medida a dança ou a música podem contribuir? Porquê as festas são divertimentos colectivos ? Como se pode entender que o quotidiano do Século XVIII fosse eminentemente condicionado pela prática religiosa e ao mesmo tempo o pecado estivesse tão presente, de modo a que a FESTA hesite entre dois mundos, sendo meio de salvação tanto pela adoração como pela penitência? Porquê se glorifica o Trabalho e o próprio acto da festa é um chamamento ao ócio? Todas estas questões se põem ao historiador.
E quando parece que se aceita como conclusão, ainda que parcelar, que a FESTA é sinal de ruptura, deveremos interrogar-nos sobre as aparências da História, já que se de ruptura se tratou, em algum tempo, a capacidade dos Homens para a continuidade é de tal maneira forte que apenas podemos conhecer o que foi institucionalizado e como tal deixou sinais. Sinais que poderemos encontrar através das mais diferentes fontes, como a arqueologia ou o estudo dos jardins.
Baridon, no Congresso Internacioal sobre A FESTA pôs-nos a questão: “o papel percursor das Luzes é neste domínio evidente: reorganizando o jardim para o tornar fiel à sua nova visão do mundo, os filósofos não esqueceram que essa imagem ideal da natureza correspondia às aspirações do corpo social. Eles abriram a porta à relação ecologia/política que faz parte das grandes preocupações do mundo no qual vivemos”.
E para não invocar Michel Vovelle e os seus trabalhos bem conhecidos sobre as FESTAS REVOLUCIONÁRIAS, lembremos a investigação do Professor Nakagawa, do Japão, que também, no mesmo Congresso, afirmava: “foram os enciclopedistas os primeiros que voltaram a sua atenção para a força de coesão que também possuem as festas não-religiosas e /..../ como a festa revolucionária soube alcançar esse valor quase religioso de que eram dotadas as velhas festas cristãs. Os revolucionários, muito sensíveis a esta função da festa, aproveitaram-na para mobilizar os cidadãos, a fim de criar, pela organização de festas, um centro de força, um suporte de energia destinado a unir a comunidade”. A FESTA conduz-nos, assim, e mais uma vez, aos problemas dos nossos dias e à reflexão sobre as ansiedades  humanas que se fazem notar através de pequenas insinuações reveladoras da necessidade constante de mudança e de reformas sociais, políticas e mentais. Então a FESTA pode permanecer como um fio condutor das energias profundas e da memória das culturas.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2004

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